Introdução
Os mitos do empreendedorismo com alimentos: quem nunca tomou uma afirmação como verdade e na prática percebeu que não era nada daquilo?
Quem está fora do empreendedorismo propaga ¨verdades¨ que nada tem a ver com a realidade. E se uma pessoa pensa em empreender pode acabar caindo eu uma cilada se não identificar esses mitos.
Neste artigo vamos desvendar os mitos mais comuns, sob o olhar de quem realmente empreende no ramo.
Mito 1: Comida sempre dá dinheiro porque todo mundo come
Primeiramente é importante definir o ¨dar dinheiro¨. Não é raro o empreendedor interpretar o faturamento como lucro.
É possível que o negócio fature muito e dê zero lucro ou até prejuízo. Se um negócio vende R$ 200.000,00 por mês, a primeira vista pode parecer que ¨dá dinheiro¨. Porém, se este negócio for mal administrado, mesmo vendendo este montante, poderá não dar lucro.
Faturamento é o produto das vendas. Lucro é o faturamento menos todos os custos e despesas.
Comida é um ramo de negócio com alta probabilidade de venda, pois de fato todo mundo come. Porém para ter lucro, é preciso fazer a correta gestão do negócio, precificando certo, fazendo a gestão do caixa e controlando o desperdício na produção.
Mito 2: Dá para ter 100% de lucro com alguns alimentos
Este é um ¨clássico¨, os 100% de lucro. Para derrubar este mito de uma vez por todas, vamos dar uma olhada em uma imagem que explica o que é o lucro dentro do seu negócio de alimentos.
Nesta bola temos várias fatias. Pense nela como sendo o total das suas vendas, o seu faturamento.
A bola é 100%. Dentro dos 100% estão todos os gastos do negócio e também o lucro.
Por isso é impossível ter 100% de lucro. Não há possibilidade de ter custo zero em um negócio. Sempre existirão gastos com matéria prima, gastos fixos, mão de obra, embalagens, taxas.
O lucro é uma das fatias do preço de venda/ faturamento.
Claro que quanto menores forem os gastos, maior será a fatia do lucro.
Mas 100% não existe.
Mito 3: Para precificar é só considerar 1/3 para o custo, 1/3 para os gastos fixos e 1/3 para o lucro
Na figura acima estão todas as fatias do seu negócio. Cada negócio tem seus custos e isso pode variar muito. Vamos tomar como exemplo um negócio que tem um produto com o custo de produção de R$ 12,00.
Este negócio vende 1000 unidades por mês e o empreendedor considerou R$ 12,00 como 1/3 do preço total e decidiu vender o produto por R$ 36,00. Sendo assim o faturamento deste negócio será de 1000 x R$ 36,00 = R$ 36.000,00.
Os custos fixos somam R$ 8320,00, as taxas, R$ 4320,00, os impostos, R$ 2160,00 e os gastos variáveis, R$ 3150,00.
Teremos:
Faturamento – R$ 36.000,00 – 100%
Custos e despesas – R$ 17.950,00 + R$ 12.000 = R$ 29.950,00
Lucro – R$ 36.000,00 – R$ 29.950,00 = R$ 6050,00 ou 16%
Ou seja, não há como afirmar que esta conta de 1/3 será válida. Depende do negócio e dos custos reais.
A única forma de saber é conhecendo os custos e despesas do seu negócio.
Mito 4: Quem começa sem capital não consegue crescer
Este mito eu gosto muito de derrubar com a minha própria história, pois comecei na cozinha da minha casa.
O que faz o empreendedor crescer não é ter capital de giro ou altas somas para investir, mas sim saber como funciona um negócio. Ter disciplina para realizar as tarefas necessárias, como fazer fichas técnicas, controlar o dinheiro que entra e que sai e não deixar o CMV – custo de mercadoria vendida disparar. No empreendedorismo com alimentos é essencial conhecer os índices e métricas do ramo para ter sucesso.
Mito 5: Empreendedor trabalha quando quer
O empreendedor organizado pode ter alguma liberdade sobre os seus horários e agenda. Mas infelizmente não é isso que acontece com a maioria. Trabalhar apagando incêndios, sem planejamento faz com o que o empreendedor perca totalmente o controle do seu tempo e não só trabalhe muito mais horas do que deveria como também não tenha nenhum controle sobre os horários.
Para tornar este mito verdade é preciso criar rotinas e processos, sendo a execução das fichas técnicas o início de tudo.
Com o negócio organizado é possível delegar funções operacionais e então assumir a gestão do seu tempo.
Mito 6: Vender muito sempre traz bons resultados
Uma das maiores causas de rombos financeiros é a crença de que ao vender muito os resultados financeiros serão bons.
Na realidade o sucesso chega quando um negócio vende em bom volume com uma boa margem de lucro. De nada adianta escalar vendas de produtos sem margem. Isso acelera a falência, não o crescimento.
O primeiro passo para ganhar o controle da margem de lucro é conhecer os custos do negócio: CMV, gastos fixos, variáveis, taxas e impostos. Sem este conhecimento é muito arriscado aumentar as vendas, especialmente com promoções que impactam a margem de lucro.
Mito 7: Não vale à pena vender pelo IFOOD porque a taxa é muito alta
Fazer esta afirmação é equivalente a dizer que ter uma loja em um shopping não vale à pena por conta do alto aluguel.
Pode sim valer à pena, desde que o empreendedor saiba usar as estratégias corretas de posicionamento e precificação. Assim como aventurar-se emabrir uma loja em um shopping sem antes fazer uma projeção de faturamento e margem de lucro, vender pelo IFOOD pode dar errado se o empreendedor simplesmente fizer um ¨copia e cola¨ do seu cardápio atual, sem atentar-se para o impacto da taxa e para o CMV proporcional dos produtos.
O IFOOD é um excelente canal de vendas e uma vitrine poderosa, mas é preciso usar as estratégias corretas.
Mito 8: Empreender com alimentos é apenas para quem é jovem
Fico feliz em contar que semanalmente recebo nos meus cursos alunos com mais de 65 anos. Inclusive uma das minhas primeiras alunas no curso VIVER DE SOPA tinha quase 80 quando começou.
Ter sucesso empreendendo não tem nada a ver com idade e sim com comprometimento e responsabilidade com as rotinas de um negócio.
A maturidade ajuda muito na condução do negócio e em geral empreendedores com mais idade são inclusive mais resilientes.
É importante apenas manter-se atualizado em relação à tecnologia pois as ferramentas atuais tornam o trabalho mais leve e fácil.
Mito 9: É preciso uma ideia revolucionária e original para ter sucesso empreendendo com alimentos
Consumidores compram por necessidade ou desejo, simples assim. E as necessidades muitas vezes são as mais básicas, como a fome. Em alguns casos a fome está associada à um desejo de status: comer + comer em um lugar da moda.
Não é preciso inventar uma nova roda para ter sucesso, mas sim ter um produto ou serviço que atenda plenamente aos desejos e necessidades de um público alvo específico.
Muitos empreendedores pecam aí: Começam a vender sem definir o público alvo, achando que vão vender para ¨todo mundo¨ e acabam tornando-se mais um negócio genérico e entrando em disputa de preços por conta da falta de diferenciais.
Concentre a sua energia em inovar dentro do que você sabe fazer, buscando ser o melhor da sua região.
Mito 10: Empreender é um dom, não é possível aprender
Um dos mitos mais fortes dentro do empreendedorismo com alimentos é este. Mas não há nenhum fundamento nisso.
Empreender requer conhecimento de negócios e desenvolvimento de algumas habilidades, como disciplina e resiliência. E, assim como um trabalho de CLT, existe um preço a pagar. E cabe a cada um escolher que preço prefere pagar.
O que é mais importante para você? Expressar seu talento através de um negócio seu ou expressar seu talento trabalhando para outra pessoa?
Você sente mais paz sabendo que alguém vai pagar seu salário ou pensando que não há limite para o tamanho do seu salário como empreendedor (desde que você empreenda do jeito certo, claro)?
Procure aprender como funciona um negócio, como se gerencia o dinheiro, leis trabalhistas, vendas e conforme o conhecimento vai entrando, a segurança vai crescendo pois você sabe o que precisa fazer para alcançar o sucesso.
Conclusão
Procure conversar com outros empreendedores que já estão no jogo e que vão falar para você a realidade dos fatos. De nada adianta aconselhar-se com que não empreende e não sabe como o jogo funciona.
Se quiser aprender mais sobre empreendedorismo com alimentos, deixo o convite para o meu canal no YouTube: COZINHA DA CLAUDIA.
E também para conhecer o meu curso, Cozinhe & Lucre, de precificação e gestão de negócios de alimentos.